14 de jun. de 2015

Dificuldade de aprendizagem requer avaliação especializada

Educação
 http://www.brasil.gov.br/educacao/2014/07/dificuldade-de-aprendizagem-requer-avaliacao-especializada

Dificuldade de aprendizagem requer avaliação especializada

Diagnóstico escolar

"Professores são muito importantes no processo de intervenção, independentemente das limitações do aluno", ressalta especialista
por Portal Brasil publicado: 11/07/2014 19h19 última modificação: 14/07/2014 16h06
Psicóloga, psicopedagoga e terapeuta familiar, Simone Maria de Azevedo integrou, durante 12 anos, equipe especializada de apoio à aprendizagem na Secretaria de Educação do Distrito Federal. Também trabalhou como professora em escolas públicas e particulares, por 16 anos, com atuação na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental. Em entrevista ao Jornal do Professor, ela disse que é preciso diferenciar problemas e dificuldades de aprendizagem e afirma que os professores são muito importantes no processo de intervenção, independentemente do problema. “Seu olhar, sua postura, sua afetividade fazem toda a diferença”, ressalta Simone.

O que são problemas de aprendizagem?
Simone Maria de Azevedo – São sinais indicativos de que algo não vai bem no aprender ou no ensinar. São comportamentos, atitudes, modalidades de lidar com os objetos de conhecimento e de se posicionar nas situações de aprendizagem que não favorecem a alegria de aprender, a autoria de pensamento, o sucesso acadêmico. Os problemas de aprendizagem podem ser classificados em sintoma, inibição cognitiva e reativos. Nos dois primeiros casos, as origens e causas encontram-se ligadas à estrutura individual e familiar do indivíduo que “fracassa” em aprender. No último, relacionam-se ao contexto socioeducativo. Ou seja, a questões didáticas, metodológicas, avaliativas, relacionais. É importante salientar que nos problemas de aprendizagem reativos o fracasso escolar pode demandar redimensionamento que englobe desde órgãos superiores responsáveis pela educação no país até as salas de aula. Já nos problemas em que os fatores desencadeantes são externos ao contexto escolar, geralmente há necessidade de uma avaliação especializada para buscar intervenções adequadas.
– Quais as principais manifestações dos problemas de aprendizagem?
– Comprometimento na interpretação de texto, disgrafia (deficiência na habilidade de escrever, em termos de caligrafia e também de coerência), dislexia, discalculia (dificuldade no aprendizado dos números), dispersão em sala de aula e nos momentos de realizar atividades e avaliações escolares. Modalidades de aprendizagem que não favorecem a assimilação e a acomodação dos conhecimentos de modo satisfatório, entre outros sinais, podem ser manifestações de problemas de aprendizagem. Entretanto, é preciso diferenciar problemas de aprendizagem de dificuldades de aprendizagem. Qualquer estudante pode atravessar, em algum momento da vida escolar, alguma dificuldade no aprender. Pode demorar um pouquinho mais para assimilar um conteúdo, para dar sentido ao que lhe é ensinado, por uma ou outra razão, sem, contudo, configurar um sintoma ou fracasso do professor.
Um problema de aprendizagem pode ser considerado como tal quando descartadas causas socioeducativas. Ou seja, quando os sinais persistem, apesar das intervenções educacionais. Nessas situações, muitas vezes, como foi assinalado anteriormente, há necessidade de investigação e leitura especializada. Ressalto, entretanto, a importância de cautela por parte dos educadores ao “diagnosticar”. É preciso cuidado com a tendência de atribuir a causas organicistas os problemas e dificuldades de aprendizagem apresentados pelos alunos. Considero muito válido o trabalho coletivo da escola. O estudo de situações, a ajuda e o apoio de outros profissionais – orientadores educacionais, coordenadores pedagógicos, psicólogos, psicopedagogos – são sempre muito positivos. Surgem novos olhares, tanto em relação à leitura dos problemas quanto às possibilidades interventivas.

3 de jun. de 2015

MeuCérebro

http://meucerebro.com/os-periodos-sensiveis-do-desenvolvimento-cerebral/



Os períodos sensíveis do desenvolvimento cerebral

É certo que podemos aprender coisas novas ao longo da vida. Afinal de contas, se não pudéssemos, simplesmente não teríamos chegado até aqui. No entanto, como esse aprendizado ocorre? E se, ao contrário do que muitas vezes se imagina, disséssemos que uma de suas etapas mais importantes ocorre na infância e não na fase adulta? Só conhecendo os períodos sensíveis para entender isso melhor.


desenvolvimento cerebral
Períodos sensíveis são essenciais na “montagem” do cérebro 
ao longo do desenvolvimento.

O que são períodos sensíveis?

O cérebro humano é algo realmente maleável. Assim como hoje sabemos que a genética não é apenas um código fixo, o cérebro também não representa apenas uma circuitaria imutável. Constantemente, as experiências que vivemos moldam, estrutural e funcionalmente, nossos neurônios, e os circuitos neurais se adaptam às necessidades exigidas pelo meio. Essa capacidade é chamada plasticidade neuronal.  que se observou até hoje é que essa plasticidade é muito maior durante a infância. E, mesmo dentro dessa fase, existem períodos limitados de tempo em que determinadas vias neuronais são excepcionalmente maleáveis. Consequentemente, nesses períodos, a pessoa é muito mais sensível às influências do ambiente, o que acaba por interferir intensamente em seu desenvolvimento cerebral. Esses períodos são chamados de períodos sensíveis.
Tais períodos não ocorrem simultaneamente para todas as partes do cérebro. Além disso, têm durações variáveis para cada conjunto de neurônios e cada função neurológica. Em resumo, isso quer dizer que existem períodos específicos da vida de uma pessoa em que ela tem maior possibilidade de desenvolver uma ou outra habilidade, e mesmo um ou outro comportamento ou traço de personalidade.


períodos sensíveis do desenvolvimento cerebral
Os períodos sensíveis de funções cerebrais específicas ocorrem 
em momentos distintos do desenvolvimento e têm durações diferentes.

O que acontece nesses períodos?

O cérebro nasce com redes neuronais “provisórias”. Uma vez no mundo, o indivíduo terá que possuir habilidades básicas para sua sobrevivência e, ao mesmo tempo, conseguir se adaptar a diversas influências imprevisíveis do meio (respostas adaptativas que, portanto, não podem estar já codificadas em seus genes). Na vida intra-útero, o cérebro fetal se assemelha mais a uma espécie de rascunho: ele possui todos os circuitos que executam as funções básicas de um cérebro, mas esses circuitos podem ser apagados e reescritos.
Por conta de várias influências moleculares, o cérebro infantil tem neurônios e sinapses extras, muitas das quais não estarão presentes na vida adulta. Esses neurônios já possuem a capacidade de produzir novos axônios, dendritos e sinapses conforme a necessidade (capacidade que está especialmente aumentada durante os períodos sensíveis). Isso basta para que tenhamos um cérebro preparado para praticamente tudo.
Conforme a criança passa por algumas experiências, certas vias neuronais vão sendo ativadas, dependendo de qual estímulo ela recebe do meio. Ao longo desse processo, as sinapses mais usadas são fortalecidas, inclusive por proteínas de adesão que ancoram os neurônios pré e pós-sinápticos uns aos outros. Novos axônios, dendritos e sinapses vão sendo formados e, se as novas vias forem usadas (ou seja, se forem úteis), elas passam pelo mesmo processo de fortalecimento. Ao mesmo tempo, as vias que não estão sendo usadas são suprimidas e até eliminadas, de forma a impedir interferências desnecessárias no funcionamento do conjunto de neurônios como um todo.
O resultado é um refinamento gradual do cérebro: uma função de cada vez, conforme os períodos sensíveis e a infância vão passando, e forma-se um adulto hábil e adaptado ao meio em que vive. Isso também quer dizer que o resultado não vai ser sempre bom, já que a sensibilidade não é seletiva e a criança está suscetível a mudar tanto por estímulos positivos quanto negativos.

Mas… e no adulto?

Infelizmente, não é possível trazer períodos sensíveis com todo o seu vigor para a fase adulta. Mas, é claro que adultos também precisam aprender sempre. Para isso, a plasticidade neuronal continua e dura o resto da vida. Só que em um ritmo menor. Algumas áreas do cérebro mantém plasticidade semelhante à da infância, como o hipocampo (responsável pelo aprendizado, memória e controle emocional).
De qualquer forma, a capacidade de se desenvolver, aprender e mudar continuam. Elas podem, inclusive, ser potencializadas em grande escala por algumas medidas. O simples fato de se prestar atenção em uma atividade ou informação já aumenta muito a plasticidade das vias neuronais que estão sendo usadas para aquela determinada tarefa. Outro exemplo é o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), substância conhecida por estimular a plasticidade neuronal, e produzida em maior escala em resposta aos exercícios físicos.

E qual é a importância de tudo isso?



New life

Os períodos sensíveis ainda não são plenamente compreendidos por conta de sua complexidade. Ainda não existem medidas psicológicas claras que interfiram nos momentos exatos da maturação cerebral para usá-los a nosso favor. Contudo, eles nos mostram que a infância é um período essencialmente relacionado ao aprendizado. Tanto que crianças têm maior facilidade em aprender novas línguas, a tocar instrumentos e mesmo em desenvolver comportamentos e visões de mundo mais éticas e saudáveis.Consequentemente, tais períodos de maior sensibilidade influenciam muito no tipo de adulto que uma criança se tornará e evidenciam como o meio afeta essa faixa etária, abrindo portas para entendermos as consequências de traumas, más influências, negligência e mesmo doenças orgânicas na infância. Da mesma forma, também apontam caminhos para futuras intervenções, através de novos tratamentos e prevenção otimizada.

Fontes: Neuropsychopharmacology Reviews, Journal of Cognitive Neuroscience
Imagens: Imagem 1, Imagem 2, Imagem 3


Carlos Henrique Ribeiro

Estudante de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia, integrante do grupo PET-Medicina UFU e ex-Coordenador Discente da Liga Acadêmica de Saúde Mental (LISAM) - UFU.